domingo, 10 de junho de 2012

Lygia Bojunga


LIVRO - a troca 


Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros
me deram casa e comida.
Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé,
fazia parede, deitado, fazia degrau de escada; inclinado,
encostava num outro e fazia telhado.
E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar
de morar em livro.
De casa em casa eu fui descobrindo o mundo
(de tanto olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos;
depois, decifrando palavras.
Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça.
Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais
 íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de
consertar o telhado ou de construir novas casas.
Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava
a minha imaginação.
Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia;
e de barriga assim toda cheia, me levava pra morar
 no mundo inteiro: iglu, cabana, palácio, arranha-céu,
era só escolher e pronto, o livro me dava.
Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa
 troca tão gostosa que – no meu jeito de ver as coisas –
é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro,
 mais ele me dava.
Mas, como a gente tem mania de sempre querer mais,
 eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar
tijolo pra – em algum lugar – uma criança juntar com outros,
 e levantar a casa onde ela vai morar.
(Mensagem de Lygia Bojunga para o Dia Internacional do
Livro Infantil e Juvenil, traduzida e divulgada nos 64 países membros do IBBY).

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